A humanidade iniciou no Jardim do Éden, com a queda do primeiro casal, homens e mulheres passaram a viver nas cavernas, depois em tendas e finalmente surgiram as casas construídas de pedras e barro.
E a partir de 1885, com a fabricação do primeiro carro do mundo, pelo alemão, Karl Bens, surgiram fabricas e diferentes e modelos de veículos motorizados. Os primeiros motorhomes surgiram na década de 1910, com a criação do Pierce-Arrow Touring Landau, que apresentava comodidades de acampamento e um banheiro a bordo. A partir de então, houve a evolução da ideia de casas móveis, com a conversão de caminhões e ônibus em "carrinhos-casa" na década de 1920. Um exemplo marcante é o "Gypsy Van", construído em 1915, veículo muito luxuoso para a época.
No Brasil o primeiro motorhome era, na verdade, um veículo oficina (GMC-AFKX 352 1,5 Ton.) que passou por um processo de transformação entre 1943 e 1944. Este motorhome foi enviado para a Itália e serviu como alojamento e escritório de comando para o Marechal Mascarenhas de Moraes.
O velho GM-AFKX 352 foi sede de diversas reuniões oficiais entre autoridades das forças brasileiras e aliadas. Seu interior contava com quase tudo que se espera de um motorhome. Possuía cama, armário, sofá, mesa, pia, prateleiras e, até mesmo, um telefone. O valoroso motorhome foi utilizado durante a guerra e foi só na década de 90 recebeu dispensa, retornando para o Brasil.
Campismo e caravanismo sugerem viajar de motorhome, van, Kombi, trailer ou até mesmo de carro adaptado; uma tendência que vem ganhando cada vez mais adeptos ao redor do mundo. Diferente do turismo tradicional, a modalidade oferece liberdade e aventura para quem pretende traçar seus próprios caminhos, além de permitir uma conexão profunda entre as pessoas e a natureza.
Com o aumento da procura por experiências mais autênticas e menos dependentes de hotéis e agências, o motorhome é apresentado como uma alternativa ideal. Não por acaso, muitos casais, famílias e até viajantes têm adotado essa forma de explorar novos destinos. Afinal, não há roteiro personalizado, mas o apaixonado pelo campismo e caravanismo cria o seu próprio destino, conforme seus desejos e necessidades. “Isso é incrível, relata José Ronaldo Albuquerque, que segundo ele: Foi “contaminado pelo vírus do viajante".
Nos poucos dias que acompanhei o 1º Circuito Integrado de Turismo para Motorhome, “Caminhos do Paraná”, que está visitando nove municípios do noroeste paranaense, descobri que além de prazeroso, é formidável, cheio de emoção e aventuras; portanto, vou relatar um pouco da experiência de quem vive sobre rodas.
O primeiro deles, Alexandre Boff, criador da Expor motorhome, evento que ocorre anualmente na região metropolitana de Curitiba, e que se tornou a maior Feira de Caravanismo e Campismo da América Latina. Alexandre é o coordenador geral da caravana do 1º Circuito “Caminhos do Paraná”.
Alexandre Boff, comenta que na companhia do pai, começou a acampar em 1974, quando pela primeira vez, chegaram a ficar 30 dias em uma localidade de Santa Catarina. Eles viajavas “num opala verde, cor de abacate, de quatro portas”. As viagens foram aumentando, de 1974 à 1978, Florianópolis era o destino para acampar. “Depois disso, passei alguns anos da minha vida, pelas américas, fui várias vezes para a Europa, embora ganhando 10 mil dólares mensais, abandonei tudo e comecei fazer lâmpadas de Led para motorhome”.
Em 2016 Alexandre fez a primeira feira para motorhome em Novo Hamburgo/RS, e depois, na tentativa de expandir a Feira, em 2018 com apoio de amigos, realizou mais uma Feira em Canela/RS., depois em Brasília/DF, mas devido a Pandemia em 2020, a Feira foi suspensa; e quando retornou, começaram as Exposições de Motorhome em Pinhais, onde a Feira consolidou-se como a Maior Feira de Caravanismo e campismo da América Latina.
Atualmente Alexandre e sua esposa Helena, passam mais tempo na estrada do que em casa; Helena também se apaixonou pelo motorhome e juntos vivem a vida sobre rodas...
Outro, que foi contaminado pelo vírus do viajante, é José Ronaldo Albuquerque, que já conheceu 70 países dos 195 existentes; e segundo ele, “falta muita coisa para fazer! Ainda existem muitos sonhos a serem realizados; mas como não sou mais tão jovem, prefiro fazer somente a América do Sul”. “Sou um amante de viagem, eu diria que fui contaminado com o vírus do viajante e quem é contaminado, não tem cura”. Ronaldo, desde de 1974 viaja pelo mundo; embora aposentado continua apaixonado por viagens, e sua esposa, que ainda não foi contaminada pelo "vírus “do viajante” continua trabalhando e nem sempre viaja com o marido. Já, Ronaldo ama viajar. Vez por outra, passa uns dias com a esposa em Camboriú/SC, onde tem residencia fixa.
Já, o casal Luiz Carbajo e Nela, uruguaios, casados há 54 anos e há 40 anos, viajam de motorhome pelo mundo e onde vão, levam até o (perrito) cachorrinho de estimação. Segundo Luiz, desde muito jovem ele, com os amigos adoravam acampar em barracas em campings; depois que adquiriu um motorhome “passamos a viajar pelo mundo”.
Impressionante a história do casal, Ricardo e Diana, casal que se conheceu numa caverna, onde foram acampar, casaram e optaram por navegar na costa brasileira com um pequeno veleiro. A experiência durou 15 anos. Depois que a filha cresceu, eles literalmente “abandonaram o barco”. Porém, o jornalista Ricardo e a esposa Diana, insatisfeito com a vida “pacata numa cidade do interior de São Paulo”, adquiriram um trailer e começaram a viajar pela América do Sul. Os dois, além de registar os locais por onde passam e os bons momentos vivendo sobre rodas, criaram um canal no Youtube, onde compartilham suas aventura e experiencias.
Finalmente, o simpático casal, Moacir e Clory. Moacir, bancário bem sucedido, viaja em um luxuoso motorhome, um investimento de mais de R$ 3 milhões para trafegar por estradas, as vezes não bem conservadas. Quando perguntado sobre o porquê do investimento alto, ele respondeu: “Paixão é isso e não tem preço”. Moacir e Clory, onde chegam, com a empatia e simplicidade, logo fazem amizades.
Resumindo: A vida sobre rodas, além da liberdade e aventura, adorei o companheirismo, a solidariedade, o respeito e a consideração entre todos. Creio que tudo isso os realiza e os torna uma família.
Creio que você, como eu, ao ver a caravana passar, vai se apaixonar; e se porventura, for contaminado pelo “vírus do viajante”, adquira a sua casa sobre rodas e siga o seu caminho de aventura e liberdade, vai encontrar muitos amigos e parceiros. Sucesso!
Lucio Freire - ABRAJET/PR (Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo)